sexta-feira, 21 de março de 2014

Crimeia e o direito à autodeterminação

Quando começou toda esta confusão na Ucrânia todos os nossos olhos estavam postos na capital, Kiev.

Fiquei claramente com a ideia, errada como veremos a seguir, que tratava-se de uma questão "normal" de um país de fronteira em que a parte da população, geograficamente, mais próxima da Europa se queria europeizar e a mais próxima da Rússia se queria manter-se ligado a estes. Depois existia ainda a questão, não despicienda, do gás, seu fornecimento e sua circulação.

"Resolvida" ou semi-resolvida a questão de Kiev eis que tomamos conhecimento da Crimeia.

Para quem vê um mapa a Crimeia é quase uma ilha. A ligação física ao "continente" é tão ténue que mal se percebe.

Numa situação física destas não é de estranhar a existência de uma identidade própria mas há que investigar melhor a história deste cantinho de mundo. Pelo que li a história é violenta com invasões sucessivas mas existia uma identidade bem própria.

Actualmente temos a situação que temos pois a população terá votado massivamente a anexação à Rússia e os EUA e UE consideram o ato ilegítimo (pasmei aqui pois estou habituada ao recorrente discurso destas entidades em prol da autodeterminação dos povos) e logo também o seu resultado é ilegítimo.

Para mim o direito à autodeterminação é imprescindível, lamento a decisão dos tártaros em boicotar uma votação que poderia permitir-lhes algo que não têm à quase um século, decidir sobre o futuro da sua terra, assim os votos favoráveis à integração na Rússia tiveram uma percentagem esmagadora. Considero que as votações são como as dívidas às Finanças, primeiro cumpre-se depois reclama-se, logo vota-se, eventualmente, em branco a título de protesto, depois discute-se a validade do ato.

Mas fora isto, que a minha opinião ainda não é clara sobre toda esta situação considero, como cidadã europeia, que o papel da UE a fomentar logo de inicio esta situação, que era previsível, foi lamentável. Tenho até este momento considerado que a UE não é os EUA e não impõe a sua vontade, em regra é a voz que tenta o entendimento e ainda que tenha o seu lado, não se imiscui senão mandatada pela ONU, esta noção caiu por terra a UE comportou-se como os EUA a instigar uma ruptura que era previsível numa situação geopolítica na corda bamba que é a Ucrânia e numa água a ferver a UE foi espevitar o fogo, não posso concordar com esta actuação.

Aqui em Portugal, nação com as fronteiras mais antigas da Europa e onde o gás vem do Norte de África, estou numa situação relativamente confortável até porque tanto os EUA quanto a Rússia não estão interessados numa Guerra armada e potencialmente nuclear mas fosse a UE tão esperta quanto os EUA não tinha ultrapassado a fronteira invisível, qual Muro de Berlim sem tijolos, com a Rússia. Os EUA sabem bem onde elas estão, essas fronteiras, já atravessaram a Chinesa várias vezes e algumas das derrotas foram bem penosas (Vietname, Coreia)

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