sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Ainda haverá Pais ?

Todos os portugueses assistem ao desenrolar, em nada surpreendente, da tragédia do Meco. Com o Dux a contar o que ocorreu e as responsabilidades (ou falta delas) cada vez mais a cair sobre os pais e os próprios adolescentes envolvidos no acidente assim e anunciando, em jeito de súmula mas também de repetição dado que já publiquei sobre este assunto:

1 - O mar esteve excepcionalmente perigoso este Inverno 2013/2014. Os alertas para ter atenção ao mar eram recorrentes na comunicação social, os acidentes e ondas que, num dos casos até veio atingir e arrastar viaturas e pessoas na marginal da Foz do Porto foi bastante filmada e apresentada na TV, os estragos na Costa marítima desde a Foz do Minho ao Cabo de Sagres foram cobertos até à exaustão. Como é possível estes jovens cometerem a imprudência de ir para a praia de noite, em que o mar se resume a uma mancha negríssima e ao som ressonante das ondas a quebrar.

2 - A crise económico-financeira tem sido excepcionalmente pesada sobre os portugueses é surpreendente que um grupo de jovens tenha capacidade financeira, per si, para alugar uma vivenda junto à praia para passar um fim-de-semana, aliás os pais não negam que sabiam e tinham conhecimento que os filhos se encontravam a passar o fim-de-semana naquele local. Filhos que ou são menores ou vivem por conta dos pais como tal dependentes e sujeitos a permissão dos pais para fazer tal.

Tratou-se de um acidente mas não posso deixar de questionar onde estavam os Pais?

Não digo agora, agora sei onde estão, estão a tentar responsabilizar uma vítima pelo "crime" de ter sobrevivido onde os seus filhos não conseguiram. Quando estavam na casa, quando estavam na areia, estavam porque era seu desejo estar. Não foram coagidos a pedir boleia do namorado para os ir colocar à casa ou a ir pelos seus próprios meios, foram porque quiseram ir e tiveram autorização parental para tal, outros decidiram não ir e estão vivos junto dos seus pais a lamentar a morte dos amigos.

Não basta fazê-los e dar-lhes de comer temos de cuidar deles e dos proteger de situações potencialmente perigosas. Permitir que um filho ou filha adolescente ou jovem adulto vá de fim-de-semana desta forma e digo desta forma pois não é necessário ter IQ elevado para saber que vai haver álcool, potencialmente drogas, sexo e nenhuma supervisão o que eleva a situação para potencialmente perigosa e que pode ter consequências graves para o futuro, não posso deixar de perguntar onde estavam os pais.

Depois de tudo isto eis que no Festival do Sudoeste a RTP "apanhou" e entrevistou ontem uma criança (não tinha mais de 12 ou 13 anos) que estava no Festival com a autorização dos pais (ausentes) "porque são porreiros".

E assim pergunto será que só há Pais quando as coisas correm mal para acusar os outros? Onde estão os Pais que pro-agem e previnem os males antes que aconteçam?

sexta-feira, 21 de março de 2014

Crimeia e o direito à autodeterminação

Quando começou toda esta confusão na Ucrânia todos os nossos olhos estavam postos na capital, Kiev.

Fiquei claramente com a ideia, errada como veremos a seguir, que tratava-se de uma questão "normal" de um país de fronteira em que a parte da população, geograficamente, mais próxima da Europa se queria europeizar e a mais próxima da Rússia se queria manter-se ligado a estes. Depois existia ainda a questão, não despicienda, do gás, seu fornecimento e sua circulação.

"Resolvida" ou semi-resolvida a questão de Kiev eis que tomamos conhecimento da Crimeia.

Para quem vê um mapa a Crimeia é quase uma ilha. A ligação física ao "continente" é tão ténue que mal se percebe.

Numa situação física destas não é de estranhar a existência de uma identidade própria mas há que investigar melhor a história deste cantinho de mundo. Pelo que li a história é violenta com invasões sucessivas mas existia uma identidade bem própria.

Actualmente temos a situação que temos pois a população terá votado massivamente a anexação à Rússia e os EUA e UE consideram o ato ilegítimo (pasmei aqui pois estou habituada ao recorrente discurso destas entidades em prol da autodeterminação dos povos) e logo também o seu resultado é ilegítimo.

Para mim o direito à autodeterminação é imprescindível, lamento a decisão dos tártaros em boicotar uma votação que poderia permitir-lhes algo que não têm à quase um século, decidir sobre o futuro da sua terra, assim os votos favoráveis à integração na Rússia tiveram uma percentagem esmagadora. Considero que as votações são como as dívidas às Finanças, primeiro cumpre-se depois reclama-se, logo vota-se, eventualmente, em branco a título de protesto, depois discute-se a validade do ato.

Mas fora isto, que a minha opinião ainda não é clara sobre toda esta situação considero, como cidadã europeia, que o papel da UE a fomentar logo de inicio esta situação, que era previsível, foi lamentável. Tenho até este momento considerado que a UE não é os EUA e não impõe a sua vontade, em regra é a voz que tenta o entendimento e ainda que tenha o seu lado, não se imiscui senão mandatada pela ONU, esta noção caiu por terra a UE comportou-se como os EUA a instigar uma ruptura que era previsível numa situação geopolítica na corda bamba que é a Ucrânia e numa água a ferver a UE foi espevitar o fogo, não posso concordar com esta actuação.

Aqui em Portugal, nação com as fronteiras mais antigas da Europa e onde o gás vem do Norte de África, estou numa situação relativamente confortável até porque tanto os EUA quanto a Rússia não estão interessados numa Guerra armada e potencialmente nuclear mas fosse a UE tão esperta quanto os EUA não tinha ultrapassado a fronteira invisível, qual Muro de Berlim sem tijolos, com a Rússia. Os EUA sabem bem onde elas estão, essas fronteiras, já atravessaram a Chinesa várias vezes e algumas das derrotas foram bem penosas (Vietname, Coreia)

segunda-feira, 17 de março de 2014

Thiago Bettencourt - Aquilo que eu não fiz

Porque não nos "comem" por parvos:

Eu não quero pagar por aquilo que eu não fiz
Não me fazem ver que a luta é pelo meu país.
Eu não quero pagar depois de tudo o que dei
Não me fazem ver que fui que errei.

Não fui eu que gastei mais do que era para mim
Não fui eu que tirei, não fui eu que comi
Não fui eu que comprei não fui eu que escondi
Quando estava a olhar não fui eu que fugi

Não é essa a razão para me quererem moldar
Porque eu não me escolhi para a fila do pão
Este barco afundou houve alguém que o cegou
Não fui eu que não vi

Eu não quero pagar por aquilo que eu não fiz
Não me fazem ver que a luta é pelo meu país.
Eu não quero pagar depois de tudo o que dei
Não me fazem ver que fui que errei.

Talvez do que não sei talvez do que não vi
Foi de mão para mão, mas não passou por mim
E perdeu-se a razão tudo bom se feriu
Foi mesquinha a canção desse amor a fingir

Não me falem do fim se o caminho é mentir
Se quiseram entrar não souberam sair
Não fui quem falhou não fui eu quem cegou
Já não sabem sair

Eu não quero pagar por aquilo que eu não fiz
Não me fazem ver que a luta é pelo meu país.
Eu não quero pagar depois de tudo o que dei
Não me fazem ver que fui que errei.

Meu sono é de armas e mar
Minha força é navegar
Meu Norte em contraluz

Meu fado é vento que leva e conduz

Thiago Bettencourt

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

O Meco... o que que tem a ver com as praxes?

O que aconteceu no Meco foi uma desgraça. Os meus sentimentos aos pais, irmãos e restante familia dos falecidos.

Agora eu pessoalmente não consegui ainda atingir a ligação entre o que aconteceu e a Praxe Académica.

Pelo que entendi a Praxe Académica só tem contacto com a tragédia porque as vitimas fariam parte de uma tal COPA (Comissão que Organizaria a Praxe Académica na Universidade) e até aí vai a ligação direta que até agora consegui descortinar.

Estudei fui praxada (nunca humilhada) não praxei (não me estenderei nos porquês) sempre em ambiente universitário, nunca me foi solicitado (nem, tanto quanto sei, foi solicitado a ninguém das Universidades em que andei) deslocar-me para uma residência de férias num fim-de-semana para ser praxada, o que, quando andava na Universidade, se fazia, entre colegas e amigos, era combinar um fim-de-semana só para nós. Em regra era sinónimo de bebedeira e decisões pouco acertadas durante 48h eventualmente até um ou dois comas alcoolicos.

O que me parece que aconteceu no Meco: um grupo de amigos e/ou colegas combinaram um fim-de-semana juntos, combinaram que comida e bebida cada um levava, pelos seus meios foram cada um para a casa e daí foi a farra e as decisões menos acisadas e toldadas pelo álcool. Provas como é óbvio não tenho, indicios: os testemunhos de quem os viu em clima de diversão a encaminhar-se para a praia àquelas horas da noite, e o facto que não eram caloiros mas Veteranos .

E voltamos ao ínicio não era uma Praxe Académica. Um Veterano já foi Caloiro já foi Praxado já foi Batizado já teve o seu Enterro do Caloiro já vestiu o seu traje, nos casos em apreço, já praxou já liderou a Praxe Académica não pode voltar ao inicio da Praxe Académica e voltar a ser caloiro.

Lamento pelos pais que terão de aceitar que o que aconteceu se deveu maioritariamente a uma má decisão dos seus filhos, lamento mesmo muito mas para mim o que aconteceu foi consensual e a má decisão pessoal teve consequências muito graves.

Quanto à praxe existe Praxe Académica e existe gente com baixa autoestima que não sabe qual é o seu papel como Veterano. A Praxe Académica se bem conduzida e com respeito é uma forma de colocar todos os recém chegados numa situação comum em que se divertem uns com os outros e se conhecem, é uma forma de ver um Veterano, transformado em Padrinho ou Madrinha, se tornar guia e orientador no grande Universo que é a Universidade para o recém chegado, alguém a que o caloiro pode colocar as suas dúvidas a quem pode pedir orientações.

Esta é a Praxe Académica vivida maioritariamente nas Universidade com grande história dizem alguns comentadores eu não discordo totalmente mas tenho outra interpretação do que se passa. A maioria de quem chega a uma Universidade com grande história esforçou-se para lá estar, trabalhou muito para lá chegar, sabe o que passou quando caiu neste Universo longe dos amigos e da familia e em que a Praxe Académica lhe permitiu sentir-se de novo "acompanhado" em "família", em muitas Universades "Cogumelo" que apareceram de geração espontanea à uns anos atrás, a necessidade de ter alunos a pagar a propina mensal levou à redução de padrão de exigência impostos aos alunos agora basta ter dinheiro não é necessário ter-se esforçado ou trabalhado, com isto vem a falta de respeito falta de sentido de responsabilidade, tenho pena dos que não são assim e que se veem "forçados" a integrar estas Universidades e serem Caloiros com Veteranos, nem que apenas parte deles, deste calibre.