segunda-feira, 3 de setembro de 2007

O silêncio das cinzas...

Desde que escrevi pela última vez sofri novo abalo... Novo incêndio e nova paisagem lunar... o cenário entristece demais por desolador.

As árvores centenárias que ardem durante dias sem ninguém lhes acudir pois, aos olhos dos Bombeiros, não são bens logo não merecem sequer ser objecto de uma mangueirada de àgua bemfazeja à laia de rescaldo e as mangueiras de rega não têm potência suficiente, os animais permaturamente assassinados por criminosos sem rosto e que, quando o têm, se refugiam numa Justiça cega que insiste em libertar criminosos com termo de identidade e residência e obrigatoriadade de se apresentar UMA VEZ POR SEMANA na esquadra, mesmo que seja previsível a reincidência (para mim tudo mudaria se os Juízes fossem co-responsáveis dos actos praticados nos "intervalos", passavam a condenar todos a, pelo menos, usar pulseira com GPS, controlados pelas Autoridades), os "palheiros" ardidos pois mais uma vez não são bens dado não serem casas, as casas que, quando ardem, são de "segunda habitação" mesmo que o não sejam de facto.

Esta história de "segunda habitação" é algo, aliás, a que acho graça.

Caso típico em o Portugal:
O casal trabalha na cidade onde também os filhos estudam e/ou trabalham, vivem à anos numa casa da qual pagam renda, até todos os dias 8 de cada mês, ao Senhorio.
Com as suas magras poupanças (porque em Portugal ou magras ou inexistentes) construiram a sua casinha na aldeia para onde vêm aos fins-de-semana, férias, e sempre que o emprego permite desejando viver ali quando reformados. Por necessidade são eleitores, contribuintes, utentes, beneficiários, etc. na cidade e não na aldeia onde ser eleitor até é uma possibilidade, contribuinte é complicado porque as Finanças não estão abertas ao fim-de-semana na sede de concelho, utente nem pensar porque ao ritmo que isto vai na Saúde nem Médico de Família ou vaga tinham no Centro de Saúde concelhio e depois fala-se por aí em Agrupamentos de Centros de Saúde e vai se lá saber como vai ficar o Centro de Saúde ao nível dos serviços prestados, beneficiário depende do local de origem dos descontos (cidade), etc.

Todos conhecem casos como este não é? Agora a minha questão: é a casa na aldeia "segunda habitação"? Esta é a interpretação do nosso Serviço de Bombeiros e Protecção Civil ( ou Protecção Civil e Bombeiros, nem sei nem me interessa a ordem por mais que os dirigentes discutam, brigem ou se indisponham). O que eu observo, no entanto, é que, apesar de todas os registos legais, a casa da aldeia é a única de que são proprietários. Quando esta arde não me parece justo depreciar a perda, para o casal aquela é a SUA casa a outra que ocupam pertence ao senhorio e é, para eles, na realidade, uma residência transitória.

Mas pior que Portugal foi a Grécia é com imenso espanto que vejo as imagens de todos aqueles automóveis apanhados pelo fogo, maior espanto ainda pelo facto de terem morrido várias pessoas nesses automóveis inclusivé uma mãe com os seus quatro filhos... caramba em Portugal as autoridades não nos deixam passar de automóvel mesmo para locais onde o fogo já está controlado e mesmo que deixassem nós, depois de tantos anos de sofrimento, já sabemos o que podemos e não podemos fazer.

Assumo que atravessei frente de fogo activa o ano passado mas sabia o que fazia e especialmente como e onde o fazia. Assumo que nesse ano me assustei com uma labareda maior do que eu esparava quando circulava na estrada mas eu estava por trás da frente de fogo, logo zona já ardida, o local mais seguro de todos como é do conhecimento geral.

Nunca, qualquer um de nós, com tudo o que já sofreu, se iria dirigir para zona por arder com seu automóvel, faria tudo isso sim para passar para zona já ardida ou evacuava antes do fogo chegar ou mantinha-me em casa previamente preparada (terreno limpo, bem molhada, etc.) de mangueira em riste, protecção no rosto para o fumo, leite no frigorifico e Bombeiros por perto.

Lembro que em 2003 uma aldeia ficou completamente cercada de fogo e tinha habitantes no local, mas entre estes, o seu trabalho prévio de preparação (imprescindível) e os Bombeiros presentes todos sobreviveram não havendo baixas a lamentar. Se tivesse havido alguém a tentar fugir de automóvel seria impedido, estou certa.

Claro que não esqueço que já morreu gente. Gente que se viu cercada de fogo em locais isolados no meio do mato ou da floresta, a pé ou de automóvel, este número inclui maioritariamente bombeiros, mas nunca mais de 60 num ano... isso é demais.